sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

PARADOXOS DO VOTO

Slavoj Zizek e Alain Badiou


Entre o que chama os paradoxos do voto, Alain Badiou inclui este: “Que existe uma flagrante assimetria entre o ‘sim’ e o ‘não’. A consequência dum ‘não’ é a eliminação, e é efectiva. Pelo contrário, o que se joga num  ‘sim’ não podia ser mais ilusório. A que compromissos se sentem obrigados os membros eleitos? Nada de importante, em todo o caso, o que é ainda mais verdadeiro hoje, quando a noção de ‘programa’ se encontra praticamente desacreditada. Assim, para o votante, há um efeito real para a sanção negativa, mas nenhuma previsível no caso de sucesso, excepto o da conservação dos principais parâmetros da existência.”


“Philosophical considerations of the very singular custom of voting”



Para não ser inviabilizado pelas condições não previstas ( e o futuro, por natureza, é sobretudo feito destas), um programa de governo não deve adiantar-se muito no tempo, nem ser muito específico, sob pena de se tornar mais uma causa do descrédito da política e dos políticos.

Claro que o que resta é, de certa maneira, um “cheque em branco”, que não é facilmente “digerível”, porquanto desvaloriza completamente a participação directa do eleitor nas decisões políticas que, de facto, contam.

O povo eleitor, por intuição, desconfia do valor dos compromissos feitos na base dum programa e prefere escolher as pessoas no formato mediático, já que uma experiência de pessoa a pessoa é impossível para a esmagadora maioria.  

Quando Churchill prometeu “sangue, suor e lágrimas”, todos tinham a ganhar se essa promessa não fosse cumprida. Nos outros casos, as promessas são pouco mais do que as mentiras úteis de que falava Platão.

É isto um paradoxo do voto? Não mais do que o que se aloja na própria palavra democracia. A palavra só é pertinente em comparação com as outras formas de governo. A democracia distingue-se da tirania e da monarquia pela liberdade de que o povo parece, relativamente, usufruir.

Mas quando o mesmo Churchill diz que a democracia é só o menos maus dos regimes, não é por acaso que se inibe de formular qualquer conteúdo positivo. É porque, realmente, se trata duma comparação e nada de absoluto em si mesmo.

Enfim, a verdade é que não se inventou ainda o processo de pôr milhões de tripulantes ao leme do barco em que todos estamos.

1 comentários:

Anónimo disse...

Isto também é importante:

http://www.dejalu4ds.blogspot.com/

Maria Helena