“O
acontecimento teve lugar durante o último seminário de Heidegger, para o qual
eu tinha sido convidado, em 1973. Heidegger falava sobre Gestell (armação) em contraste com Ereignis (acontecimento). A sua meditação
alcançou uma grande intensidade; evocou temas como a Tecnologia, a Habitação, a
Gelassenheit (tranquilidade). Os cinco participantes,
todos falando francês, foram arrastados pelo ‘vento do pensamento’. Heidegger
estava em diálogo consigo próprio, à nossa frente, o olhar dirigido para
qualquer outro lugar. Mas, de repente, voltou do seu retiro e estava outra vez
entre nós. E isto foi o que disse com voz firme:’ O turismo devia ser proibido.’
Assim, apanhados de surpresa, ninguém sorriu. Estavam todos sob o fascínio do
seu intenso monólogo.”
“The Thracian Maid and the Professional Thinker” (Jacques Taminiaux)
De volta ao hotel,
Taminiaux não pôde deixar de ironizar: “Será
que ele não se apercebe de que, sem a infra-estrutura turística na cidade de
Freiburg, nós não poderíamos assistir ao seu seminário?”
Foi, sem dúvida, esta
inclinação para um certo despotismo que levou o filósofo a fazer a mais
polémica das suas incursões na política: o “Discurso Reitoral” de 1934 que o
associou (indevidamente) ao nazismo e para sempre manchou a sua reputação.
Mas essa inclinação
não pode ser atribuída a qualquer defeito no carácter de Heidegger, porque é
quase sobre-humano manter o pensamento no estado contemplativo (a bios theoretikos)
e confiar apenas na sua influência indirecta, através do espírito, para “corrigir”
o mundo, que é o objecto de tantas elucubrações solitárias, quando se apresenta
uma oportunidade real de poder, ou a sombra disso apenas.
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