“O
intacto torso de pedra, que é tudo quando resta do kouros, emite luz como uma estrela,
impondo um mandamento: ‘Tens de mudar de vida.’”
“Torso arcaico
de Apolo” (Rainer Maria Rilke)
O torso de pedra está
intacto. Um pouco mais de erosão ou o golpe de um louco separariam para sempre
o monumento da ideia da perfeição.
Se há lugares sem
pedras intactas, onde mesmo assim as vozes antigas que se esqueceram do corpo, enchem o espaço do seu canto, transformadas em
cigarras, é porque trazemos o templo inteiro dentro de nós.
De facto, nesses
momentos de epifania, já não vivemos apenas na dimensão humana, porque a beleza
é talvez a única porta para a transcendência.
Aquele mandamento em
que pensa Rilke é, assim, uma liberdade poética. O inefável que exalta, a
experiência de sairmos da nossa cápsula só pode durar um instante e reclamar um
novo milagre de cada vez.
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