segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O CISNE NEGRO


"Cisne Negro" (2010-Darren Aronofosky)


Os sapatos, em “The red shoes” (1948-Powell & Pressburger), têm vida própria e, porque não param de dançar, arrastam a bailarina para a morte. No filme de Darren Aronofsky, Nina Sayers (Natalie Portman), que conquistou o papel da princesa Odete (no “Lago dos Cisnes”), não consegue convencer o director Leroy (Vincent Cassel) de que possui também um lado negro para representar a princesa má, Odile (o cisne negro).

A dualidade exigida pelo papel não é fácil para Nina que vive sob o sufoco da mãe (Barbara Hershey), bailarina frustrada que a obriga a sacrificar a vida pessoal à carreira que gostaria de ter tido. Só a esquizofrenia lhe permite “fantasmar” a sexualidade necessária, segundo Leroy, para incarnar o cisne negro. É assim que, depois de, numa alucinação, se ter ferido com um pedaço de espelho (que é o da sua imagem estilhaçada), Nina, na estreia consegue arrebatar o público, num desempenho em que se mescla a disciplina e a paixão, realizando a fórmula do seu director.

Ao triunfo da mãe, na plateia, corresponde o sacrifício da filha que aguenta, ferida de morte, como o Calvero de “Limelight”, o espectáculo até o fim.

O paradoxo do actor é este: ele não morre quando representa a própria morte, nem nós consideraríamos que representava se morresse. Assim, a figura de Nina, que julga imolar-se à sua arte, acaba, como todos os sacrifícios verdadeiros, por ser um acto de redenção. A perfeição “salva”.

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