Alexei Stakhanov (à direita) na mina com um companheiro |
“Mas
se admitirmos que as paixões dos dois sexos são igualmente fortes, por que é que
um homem nunca recusa satisfazer uma mulher que o ama e lhe pede para ser amável?
Não podemos aceitar o argumento fundado no medo dos resultados, porquanto esta
é uma consideração particular e não geral. A nossa conclusão, pois, será a de
que a razão está no facto do homem pensar mais no prazer que dá do que naquele
que recebe e, portanto, o seu desejo é o de provocar a felicidade do outro.
Sabemos, também, como regra geral, que as mulheres, tendo gozado, duplicam o
seu amor e afeição. Por outro lado, as mulheres pensam mais no prazer que
recebem do que naquele que dão e, logo, adiam o gozo tanto quanto possível, uma
vez que temem, ao oferecer-se, perder o seu principal bem – o seu próprio
prazer. Este sentimento é peculiar ao sexo, e é a única causa da coqueteria,
perdoável numa mulher e detestável num homem.”
“Memórias de Casanova”
(Vol.3)
Nada parece ser mais contra
a corrente dos preconceitos em voga no nosso tempo. E, no entanto, as palavras
pertencem a um dos maiores sedutores dos fastos amorosos e, por isso, poderia pensar-se que o autor sabia do que falava. A não ser que a sua
“profissão” exigisse uma determinada ideia do feminino, a mais produtiva em
termos de “conquistas”, o que é perfeitamente compatível com a ignorância do
sexo (feminino). E talvez estivesse nessa falsa presunção sobre o desejo do
outro o segredo dos sucessos de Casanova.
O desejo masculino,
na nossa espécie, não é especialmente atractivo e não poderia dar conta da
sedução. Por outro lado, a veleidade de conhecer o desejo
feminino pode ser patética. Fellini deu-nos um Casanova stakhanovista, um
verdadeiro operário do sexo, o que corresponderia ao ideal de servir da
doutrina atrás expressa.
Estará neste lado infantil de Casanova a chave do
seu “catálogo”?
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