sábado, 26 de fevereiro de 2011

O STAKHANOVISMO AMOROSO

Alexei Stakhanov (à direita) na mina com um companheiro



“Mas se admitirmos que as paixões dos dois sexos são igualmente fortes, por que é que um homem nunca recusa satisfazer uma mulher que o ama e lhe pede para ser amável? Não podemos aceitar o argumento fundado no medo dos resultados, porquanto esta é uma consideração particular e não geral. A nossa conclusão, pois, será a de que a razão está no facto do homem pensar mais no prazer que dá do que naquele que recebe e, portanto, o seu desejo é o de provocar a felicidade do outro. Sabemos, também, como regra geral, que as mulheres, tendo gozado, duplicam o seu amor e afeição. Por outro lado, as mulheres pensam mais no prazer que recebem do que naquele que dão e, logo, adiam o gozo tanto quanto possível, uma vez que temem, ao oferecer-se, perder o seu principal bem – o seu próprio prazer. Este sentimento é peculiar ao sexo, e é a única causa da coqueteria, perdoável numa mulher e detestável num homem.”


“Memórias de Casanova” (Vol.3)



Nada parece ser mais contra a corrente dos preconceitos em voga no nosso tempo. E, no entanto, as palavras pertencem a um dos maiores sedutores dos fastos amorosos e, por isso, poderia pensar-se que o autor sabia do que falava. A não ser que a sua “profissão” exigisse uma determinada ideia do feminino, a mais produtiva em termos de “conquistas”, o que é perfeitamente compatível com a ignorância do sexo (feminino). E talvez estivesse nessa falsa presunção sobre o desejo do outro o segredo dos sucessos de Casanova.

O desejo masculino, na nossa espécie, não é especialmente atractivo e não poderia dar conta da sedução. Por outro lado, a veleidade de conhecer o desejo feminino pode ser patética. Fellini deu-nos um Casanova stakhanovista, um verdadeiro operário do sexo, o que corresponderia ao ideal de servir da doutrina atrás expressa.

Estará neste lado infantil de Casanova a chave do seu “catálogo”?

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