O “Nouvelle
Observateur” de 7 deste mês titulava: “34%
daqueles que se dizem católicos confessam não crer em Deus, segundo uma
sondagem”. A sondagem tinha sido publicada pelo “Parisien/Aujourd’hui en
France” no dia anterior e revelava que menos de quatro franceses em 10 crêem em
Deus.
Admitindo que a
sondagem representa pelo menos uma tendência, o que surpreende é a
existência de pessoas que, declarando-se católicas, não crêem em Deus, ou seja,
no que era suposto ser o próprio fundamento da sua religião.
Todos sabemos que é
prática comum a presença de não-católicos ou de confessados ateus em certos
ritos celebrados no seio da Igreja, ligados, sobretudo, à morte e ao
nascimento. Ninguém se escandaliza que, durante a missa, certas pessoas não
acompanhem a liturgia ou se abstenham de certos gestos.
O ritual religioso
parece poder separar-se da doutrina fundamental no pensamento de muita gente.
Conhecemos, no Extremo Oriente,
religiões em que o culto é tudo e que Deus, como disse Laplace a Napoleão, “não é uma hipótese necessária”.
Mas poderá quem assim
pensa considerar-se católico? A secularização encontra aqui a sua ponta extrema,
revelando até que ponto a sociedade mudou “por dentro”. Em resultado duma
metamorfose silenciosa, o corpo da Igreja luta agora contra o profano dentro de
si mesma, e o verdadeiro espírito, como noutras crises, talvez, menos graves, voou para
as "ruínas interiores" ou perdura, por exemplo, em padres como o de Bernanos.
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