quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O NOVO CORPO DA IGREJA



O “Nouvelle Observateur” de 7 deste mês titulava: “34% daqueles que se dizem católicos confessam não crer em Deus, segundo uma sondagem”. A sondagem tinha sido publicada pelo “Parisien/Aujourd’hui en France” no dia anterior e revelava que menos de quatro franceses em 10 crêem em Deus.

Admitindo que a sondagem representa pelo menos  uma tendência, o que surpreende é a existência de pessoas que, declarando-se católicas, não crêem em Deus, ou seja, no que era suposto ser o próprio fundamento da sua religião.

Todos sabemos que é prática comum a presença de não-católicos ou de confessados ateus em certos ritos celebrados no seio da Igreja, ligados, sobretudo, à morte e ao nascimento. Ninguém se escandaliza que, durante a missa, certas pessoas não acompanhem a liturgia ou se abstenham de certos gestos.

O ritual religioso parece poder separar-se da doutrina fundamental no pensamento de muita gente. Conhecemos, no Extremo  Oriente, religiões em que o culto é tudo e que Deus, como disse Laplace a Napoleão, “não é uma hipótese necessária”.

Mas poderá quem assim pensa considerar-se católico? A secularização encontra aqui a sua ponta extrema, revelando até que ponto a sociedade mudou “por dentro”. Em resultado duma metamorfose silenciosa, o corpo da Igreja luta agora contra o profano dentro de si mesma, e o verdadeiro espírito, como noutras crises, talvez, menos graves, voou para as "ruínas interiores" ou perdura, por exemplo, em padres como o de Bernanos.

0 comentários: