Panem et Circenses (http://farm3.static.flickr.com) |
“Ora,
nada é menos raro, na história e na sociologia, do que as relações dialécticas
entre os interesses e alternativas que não são talhadas à medida por eles, mas
são descontínuas ou heterogéneas.”
“Le pain et le
cirque” (Paul Veyne)
Os interesses
decidiriam tudo se pudéssemos sempre agir racionalmente (foi o erro da teoria
dos jogos aplicada à economia). Podemos, é verdade, escolher o menor dos males,
mas isso já não é agir e sim sofrer o estado do mundo ou as consequências imprevisíveis
dos nossos movimentos. Por isso, a misantropia tem as vistas curtas. Atribui ao
homem uma liberdade que ele não tem.
Se Sócrates dizia que
nenhum homem é mau voluntariamente, não estava a ser ingénuo nem benevolente,
mas a tirar as devidas conclusões do facto de só agirmos independentemente do
mundo e dos outros na nossa cabeça. Queria dizer também, evidentemente, que
ninguém escolhe o mal para si próprio, se tiver consciência disso. A maldade recai
sempre sobre nós mesmos se pudermos pensar todas as relações. Nem a culpa
judeo-cristã nos faz querer o mal por si mesmo, pois, como expiação, é sempre
em vista do bem.
Alain chama a atenção
para o significado da palavra “méchant”
(mau) que vem de “mal-échoir”
(cair mal). Quando caímos somos um grave como todos os outros, sofremos a força
e a acção só pode ser uma miragem.
Bastaria ter isto em
conta para saber que a economia tem muito de magia e que noções como a de
sistema económico são aproximações encantatórias.
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