sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OS DE CIMA E OS DE BAIXO



Em “Gosford Park” (2001), de Robert Altman, o criado do produtor de cinema é, de facto, um actor, ou se quisermos, um espião por conta própria. Entre o grupo de cima (upstairs) e o de baixo (downstairs), ele desloca-se como uma “sonda” americana.

Numa primeira fase, parece obedecer a todas as convenções e ocupar o “seu lugar” entre o pessoal doméstico, com as não menos convencionais surtidas nocturnas ao quarto de “her ladyship”. Mas a certa altura, aparece no salão entre os demais cortesãos de Sir William vestido “à civil” e fora dos dois mundos. O “valet” George, em retaliação, entorna-lhe o café nas calças, como por acidente.

O actor de Hollywood, com a sua frívola experiência que o deixou malquisto em ambos os patamares, acaba por se encontrar no papel de bárbaro que uma sociedade tão hierarquizada como a inglesa de 1927 lhe destina.

Mas, para nós, espectadores, o comportamento da personagem tem outro efeito: o de revelar um outro teatro, em que a aristocracia representa, de facto, uma superioridade em que já não acredita.

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