Em “Gosford Park”
(2001), de Robert Altman, o criado do produtor de cinema é, de facto, um actor,
ou se quisermos, um espião por conta própria. Entre o grupo de cima (upstairs)
e o de baixo (downstairs), ele desloca-se como uma “sonda” americana.
Numa primeira fase,
parece obedecer a todas as convenções e ocupar o “seu lugar” entre o pessoal
doméstico, com as não menos convencionais surtidas nocturnas ao quarto de “her
ladyship”. Mas a certa altura, aparece no salão entre os demais cortesãos de
Sir William vestido “à civil” e fora dos dois mundos. O “valet” George, em
retaliação, entorna-lhe o café nas calças, como por acidente.
O actor de Hollywood,
com a sua frívola experiência que o deixou malquisto em ambos os patamares,
acaba por se encontrar no papel de bárbaro que uma sociedade tão hierarquizada
como a inglesa de 1927 lhe destina.
Mas, para nós,
espectadores, o comportamento da personagem tem outro efeito: o de revelar um
outro teatro, em que a aristocracia representa, de facto, uma superioridade em
que já não acredita.
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