“Porque
a reprodução e a sobrevivência individuais estão sujeitas à repetição do mesmo
(o processo cíclico da natureza), a vida é o reino da necessidade. Pela mesma razão, a vida impede
qualquer diferenciação que vá além do exercício duma função vital ou
generativa. Tanto quanto governa aquilo que fornece, a vida pode ser a fonte
duma profusa multiplicidade, mas não poderia tolerar que
indivíduos dela emanados expressassem a sua singularidade e cujo destino fosse
a exibição da sua qualidade de serem únicos e o reconhecimento dela pelos
outros. Por outras palavras, a vida multiplica-se, mas de modo nenhum favorece
aquilo a que Arendt chama de pluralidade, i.e., a condição que consiste em cada
indivíduo ser ao mesmo tempo similar aos outros e diferente deles e único.”
“The Thracian Maid and the Professional Thinker”
(Jacques Taminiaux)
O estado natural não
nos permitiria nenhum progresso para além do observado nas outras espécies, se
não tivéssemos criado uma espécie de santuário em que as leis da natureza
fossem superadas na vida simbólica que é a da comunidade dos vivos e dos
mortos.
Arendt pensa que a polis
é essa criação, onde o humano transcende a sua condição efémera e em que a
palavra e a acção (lexis e praxis)
constroem um mundo durável, senão eterno, pois tal é a necessidade do espírito
que contempla o Cosmos.
Um programa que passa
no Canal Discovery, “Life after People” mostra-nos como o nosso mundo simbólico
foi realmente “tolerado” pela natureza, embora essa tolerância possa ter um fim
imprevisível. De qualquer modo, a nossa existência não pode ser um absurdo, o
que nos leva a interrogá-la para lá de qualquer perspectiva darwiniana.
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