sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

UM MUNDO DE TOLOS




“Astroff – Eu mudei muito desde então?
 Marina – Oh, sim. Tu eras bem-parecido e jovem então, e agora és um velho, deixaste de ser bem-parecido. Além disso, bebes.”


“O Tio Vânia”  (Anton Tchekov)



O médico, “enterrado” na província, deita contas à vida diante da velha ama. Ela interrompe o triste solilóquio de Astroff, perguntando-lhe se quer comer alguma coisa.

A melancolia dos senhores faz questão de ser lúcida. Astroff considera-se um tolo como os restantes, mas não estúpido. Entre as duas palavras, existe de facto uma grande diferença, porque até um sábio pode entontecer por amor.

A decadência, o sentimento da vida estragada para sempre (compreende-se como a ideia da revolução foi um tónico revigorante), a vida confinada a um lugar, tudo isso pode fazer um mundo de tolos que bebem, em vez de viver.

O mundo do bom senso, esse, é representado pelos servos, como Marina.

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