“Astroff
– Eu mudei muito desde então?
Marina – Oh, sim. Tu eras bem-parecido e jovem
então, e agora és um velho, deixaste de ser bem-parecido. Além disso, bebes.”
“O Tio Vânia” (Anton Tchekov)
O médico, “enterrado”
na província, deita contas à vida diante da velha ama. Ela interrompe o triste
solilóquio de Astroff, perguntando-lhe se quer comer alguma coisa.
A melancolia dos
senhores faz questão de ser lúcida. Astroff considera-se um tolo como os
restantes, mas não estúpido. Entre as duas palavras, existe de facto uma grande
diferença, porque até um sábio pode entontecer por amor.
A decadência, o
sentimento da vida estragada para sempre (compreende-se como a ideia da
revolução foi um tónico revigorante), a vida confinada a um lugar, tudo isso pode
fazer um mundo de tolos que bebem, em vez de viver.
O mundo do bom senso,
esse, é representado pelos servos, como Marina.
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