Maurice Blanchot (1907/2003) |
“Trata-se
de pensar a heteronomia do Outro no Mesmo, onde o Outro não subjuga o Mesmo,
mas o desperta e desembriaga num desembriagamento que é um pensamento mais
pensante do que o pensamento do Mesmo, num despertar que inquieta o repouso
astronómico do mundo. É este pensamento da inquietude como relação que, sem
dúvida estranho a qualquer preocupação teológica, Maurice Blanchot exprimiu
escrevendo: 'Nós pressentimos que o desastre é o pensamento.' Onde é preciso
compreender o desastre como des-astre (o): não estar no mundo sob os astros.”
“Dieu, la Mort
et le Temps” (Emmanuel Lévinas)
Inquietos por causa
da luz própria, que não nos parece a dos astros até estarmos muito avançados no
“desembriagamento”: estamos demasiado cheios de nós (pronome e substantivo,
porque é preciso transcender e desatar).
Mas a outra conotação
do desastre alerta-nos para o fracasso trágico que é “falhar a própria morte”
(preocupação confessada de Simone Weil), isto é, de a vivermos como o Mesmo,
excluído de qualquer heteronomia ou transcendência.
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