“Mathilde
s’ennuyait en espoir. Le Marquis de Croisenois parvint à l’approcher, et lui
parlait, mais elle rêvait sans l’écouter. Le bruit de ses paroles se
confondait pour elle avec le bourdonnement du bal. Elle suivait de l’oeil
machinalement Julien, qui s’était éloigné d’un air fier et mécontent.”
“Le Rouge et le Noir”
(Stendhal)
Alain admirava esta
expressão: “s’énnuyer en espoir”. A jovem marquesa fazia-se acompanhar para
onde quer que fosse duma provisão de aborrecimento antecipado que lhe estragava
a vida. Era orgulhosa do seu sangue e do seu génio, e à sua volta só encontrava
cortesãos. É próprio duma corte aborrecer-se mortalmente, o que é pagar
demasiado caro os privilégios.
Mathilde de La Mole
decretara, pois, que nunca haveria nada de novo e que nunca poderia conhecer
alguém interessante. Há-de apaixonar-se, não pelo plebeu Julien Sorel e os seus
modos selvagens, mas pela ideia de amar tal personagem, com um romantismo por
que estava disposta a arriscar tudo.
O tipo de
aborrecimento de Mathilde é característico da velhice e não duma jovem de vinte
anos. A expectativa de aborrecer-se é natural naquela e está à medida do seu pequeno
futuro e do seu mundo que desaparece.
1 comentários:
A "ideia de amar tal personagem" não é o que se passa também com a Carmen? A sedução a D. José e logo de seguida a Escamillo não será também uma "ideia de amar o amor"?
Maria Helena
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