"Encontramos esta mesma atitude de cepticismo ligeiramente divertido, quando ficamos a saber que lhe foi diagnosticada uma angina de peito e lhe foi recomendada uma vida mais calma e saudável. Hannah consente em fazer alguns cortes (tabaco, ritmo de trabalho, etc.) desde que tal não implique uma menor qualidade de vida, pois, como diz "I am not going to live for my health."
"Nas teias de uma amizade: Hannah Arendt e Mary McCarthy" (Maria Luísa Ferreira)
Hannah Arendt teve um primeiro enfarte em 5 de Maio de 1974 e veio a ter morte súbita, com um segundo, sete meses depois. Entre as duas datas, "não viveu para a sua saúde". Provavelmente os seus "excessos" eram-lhe necessários para a qualidade do seu trabalho. Não se pode pensar arrojadamente quando se limita o futuro e se impõe uma "excessiva" prudência ao corpo.
É, decerto, uma ilusão esse futuro que nos damos, mas é preciso escolher entre viver bem e viver por mais algum tempo.
Não é de crer que os filósofos antigos que ensinavam dever o pensamento consagrar-se à preparação da morte fossem especialmente mórbidos. Que diferença faz ser a idade o mestre nessa matéria ou a filosofia? Poderia o filósofo ignorar que a vida e a morte não se compreendem uma sem a outra?
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