quinta-feira, 11 de março de 2010

O DILEMA DO MESTRE-ESCOLA




"RS - Voltemos a uma outra questão. Quais foram os professores que mais contaram para si?

GS – Fico encantado em responder. Alguns foram professores primários. No jardim-escola, em França, trazia-se uma camisa azul, uma cestinha para o farnel e púnhamo-nos em sentido quando o mestre entrava. Portanto, o mestre entra – lembro-me ainda do seu nome -, olha esses pequenos de cinco, seis anos, e diz: 'Meus senhores, ou são vocês, ou eu.' Quando oiço falar em colégios de formação de mestres na América, faço troça, porque a arte de ensinar é simplesmente saber o que quer dizer a frase."

"L'Art de la Critique, entrevista com George Steiner, de Ronald Sharp)


E o que a frase quer dizer, não é verdade, é que ou os alunos ensinam o mestre, que não sabe tudo e já se esqueceu, por exemplo, do maravilhoso mundo da infância e da aventura que é explorar esse mundo, ou é o mestre que ensina o que os miúdos não podem saber, sobretudo, porque ainda não têm idade para isso, numa relação assimétrica que nada tem a ver com o que se passa na vida política, onde entram conceitos como o de democracia, de igualdade ou dos direitos da pessoa.

Desde experiências como a da chamada escola democrática de Summerhill, de A.S. Neill, que formou tantos "invertebrados sociais", incapazes de lidar com o mundo adulto, que a perfusão do mundo da política no ensino, através de teorias pedagógicas que tratam a criança como um cidadão em miniatura, que se sabe menos do que nunca o que o dilema de que fala George Steiner quer dizer.

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