sábado, 22 de agosto de 2009

O PILRITEIRO DE MARCEL

Um pilriteito (Crataegus oxyacantha)

Evocando os festões branco e rosa do pilriteiro no caminho de Swann, Proust fala em epifania. Um ser desconhecido se manifesta na sua exuberância enchendo de júbilo a alma do narrador.

A Botânica, no autor da "Recherche" é toda uma reserva de metáforas, a mais genial das quais é a descrição do encontro de Jupien e do barão de Charlus no pátio dos Guermantes, como a improvável conjunção do insecto raro e da orquídea exótica:

"Eu sabia que esta espera não era mais passiva do que a da flor-macho, cujos estames se haviam espontaneamente orientado para que o insecto mais facilmente pudesse recebê-la; do mesmo modo, a flor-fêmea que estava ali, se o insecto viesse arquearia, coquete, os seus "estilos" e para ser melhor penetrada por ele faria imperceptivelmente, como uma donzela hipócrita mas ardente, a metade do caminho."(*)

Se fosse possível fazer tábua-rasa do aluvião psicológico que inundou a literatura e dos múltiplos avatares da psicanálise, seria preciso um regresso a La Fontaine, procurando as ideias no reino animal, ou ao pilriteiro de Marcel que como um crescendo musical nos envolve numa nuvem de pólen e alegria.

(*) Marcel Proust (in Sodoma e Gomorra)

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