A noite estrelada (Van Gogh)
Alain diz que a atenção é religiosa ou não é.
Há muitas maneiras de nos distrairmos: distraímo-nos de alguma coisa ou com alguma coisa, perdemos a atenção, por estarmos cansados, não prestamos atenção a um pormenor significativo; vemos a televisão para nos distrairmos, ou porque alguma coisa nos preocupa em demasia, porque queremos desviar-nos duma obsessão, porque não queremos pensar. Mas há uma só atenção que é a atenção pura, que considera os astros, conforme a etimologia. O que a torna menos pura, até à vigilância animal é o interesse.
A atenção normal é como uma luz de vigia, pronta para tocar o alarme, se for necessário. Tudo o que não nos interessa permanece fora desse panóptico quase instintivo. Não precisamos para isso de verdadeira atenção. Se um perigo iminente nos desperta vivamente é sempre para o imediato, para as causas e consequências próximas.
Se a atenção se exerce, de facto, é porque estamos já fora do caminho habitual, para lá do interesse prático. Ela dirige-se para o que nos ultrapassa infinitamente (mesmo dum ponto de vista ateu) e compreendo porque faz sentido que tenha de ser religiosa. Porque, face a essa transcendência, é já uma aspiração, muito para além do interesse e do saber. De antemão aquiescente com o sentido que procura.
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