Alexis de Tocqueville (1805/1859)
"O papel que, da Antiguidade aos nossos dias, todas as utopias políticas atribuem à educação, mostra bem quanto parece natural pretender fundar um novo mundo com aqueles que são novos pelo nascimento e pela natureza. No que respeita à política, há aí, por certo, um profundo erro de concepção: em vez de se juntarem aos semelhantes esforçando-se por agir pela persuasão e correndo o risco de fracassar, intervém-se dum modo ditatorial que se funda sobre a superioridade absoluta do adulto, e tenta-se dar lugar ao novo com um 'fait accompli'."
"La Crise de la Culture" (Hannah Arendt)
Já Tocqueville tinha notado o entusiasmo americano por tudo o que é novo. O papel destinado à educação é uma das utopias aplicadas menos reconhecidas enquanto tal e mais equivocamente consensuais.
Arendt, contudo, chama a atenção para o que significa essa pretensão de, através da educação das crianças (oí neoí, os novos, para os Gregos) transferir para a geração futura a obrigação de criar um mundo melhor. Se a "Revolução" se pode fazer assim, naturalmente, quase pela acção do tempo, qual será a necessidade da política?
Esta abdicação dos adultos pode ser característica da neolatria dos Americanos (Tocqueville, enviado para estudar o sistema carceral, terá sido particularmente sensível a este apoliticismo), mas a Europa, embora influenciada pelo idealismo de Rousseau, seguiu um caminho muito diferente.
Entretanto, fomos também contagiados pela neolatria, mas não se pode dizer que a educação passasse a assumir aquele papel revolucionário. A principal razão talvez seja a de que a própria ideia de Revolução deixou o plano político para voltar ao definitivamente utópico (não se encontra em lado nenhum), com a consequência do nosso mundo, imperfeito como é, assumir, paradoxalmente, a qualidade das coisas acabadas.
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