Astolphe-Louis-Léonor, Marquis de Custine (1790/1857)
"Comparar os diversos modos de existência das nações da terra, estudar a maneira de pensar e de sentir dos povos que a habitam, apreciar as relações que Deus estabeleceu entre a sua história, os seus costumes e a sua fisionomia, viajar numa palavra: é um inesgotável alimento fornecido à nossa curiosidade, um eterno meio de actividade para o nosso pensamento; impedir-me de percorrer o mundo, seria tratar-me como a um sábio a quem se escondesse a chave da sua biblioteca."
"La Russie en 1839" (Astolphe de Custine)
Montaigne, embora tivesse deixado um journal de viagem, não precisava de sair da biblioteca do seu castelo no Périgord para estudar os povos e satisfazer a sua curiosidade. Bastavam-lhe o Latim e o Grego para percorrer as distâncias e sobretudo o tempo.
O marquês de Custine era um outro homem. Nascera depois da revolução científica do Renascimento. A viagem do "Beagle" terminara em 1836. E assim como Darwin procurava um novo ponto de partida independente da natureza aristotélica, fundado na experiência e na observação, Custine inspira-se no mesmo método para realizar o seu estudo. Poderia ter sido um pioneiro do turismo cultural, não fossem observações como esta, citada por Daniel Boorstin ("Cleopatra's nose"): "O império do Czar, segundo ele, era já verdadeiramente uma sociedade 'sem classes'. Abaixo do próprio autocrata não havia graus de independência ou dignidade, mas toda uma nação de escravos amedrontados."
É que o turista moderno vive para o auto-desfrute e não se toma suficientemente a sério; não lhe vem ao espírito que a sua experiência possa identificar os outros.
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