sábado, 15 de agosto de 2009

O PRAZER OBRIGA


Marcel Proust (1871/1922)


"(…) se Mme. Verdurin não fosse verdadeiramente indiferente à morte da princesa, para explicar que recebesse, deveria acusar-se duma falta bem mais grave? Esquecia-se que Mme. Verdurin teria confessado, ao mesmo tempo que o seu desgosto, que não tinha a coragem de renunciar a um prazer; ora, a dureza da amiga era qualquer coisa de mais chocante, de mais imoral, mas de menos humilhante, por conseguinte mais fácil de confessar, do que a frivolidade da dona da casa."

"La Prisonnière" (Marcel Proust)


Para não se recusar o prazer de receber, uma vez mais, a sua côterie, a Patroa prefere demonstrar uma chocante insensibilidade pela morte de um dos seus fiéis. É o mecanismo que levava o Duque de Guermantes, já com o fraque vestido, a considerar um exagero a notícia da morte dum seu primo.

É preciso um dilema como este, entre a obrigação e o prazer, para o verniz da urbanidade e da cortesia estalar, abrindo embora as fissuras que desfeiem menos, pois, como explica Proust, "Em matéria de crime, onde há perigo para o culpado, é o interesse que dita a confissão. Para as faltas sem sanção, é o amor-próprio."

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