sexta-feira, 4 de junho de 2010

TENTADO PELA INQUIETAÇÃO


"Tentação" (Salvador Dali)


"Os admiradores da beleza das coisas exteriores: não guardam para ti a sua fortaleza (…) malgastam-na em trabalhos voluptuosos. (…) Fracassam, mas ao fazê-lo não deixam de dar-se egocentricamente uma importância falsa, posando como gozadores e entendidos nestas coisas, ao mesmo tempo que fazem como se estivessem em contacto íntimo e fraterno com o sentido do mundo e com os mistérios da vida."


(Agostinho in "Estudos sobre mística medieval" de Martin Heidegger)



Agostinho refere-se àqueles que vivem numa posição falsa, pois têm de mentir-se a si próprios ao assumir uma pose perante os outros. Aquele "como se" é uma máscara com que se significa a profundidade da existência naquilo que ela tem de mais superficial. Isto é negar a autenticidade da própria volúpia no momento mesmo em que parece esgotar o sentido da vida.

O espírito de Agostinho é a negação do que existe, tanto mais "encarniçada" quanto ele pretende reformar a sua vida e cortar radicalmente com o passado.

Com isto, o santo cede completamente à tentação da inquietação (tentatio tribulatonis), tornando-se "um problema para si mesmo". Nesta agonia, o que é que fica para Deus?

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