domingo, 6 de junho de 2010

O VALOR DO MU


"Nada"

"Tu próprio deves ter o rosto do Bodhidharma para o ver. Um só relance bastará. Mas se dizes que o encontraste, então nunca o vistes."

(comentário de Mumon em "The Gateless Gate")


Diz um outro koan que no mesmo instante em que falamos duma coisa falhamos o alvo. Não devemos recorrer à linguagem se queremos ter a "experiência directa".

Tudo quanto acreditamos no Ocidente é desfeito por este pensamento. A separação do corpo e do espírito, o domínio das paixões, tudo isso é atingido por uma via estranha ao cânone grego ou judeo-cristão. Nós temos de fazer para desfazer. Concentrar a realidade no indivíduo para a jogar no fracasso das nossas ilusões.

O Oriente do Zen não é fanático (como o de Pessoa), pois começa por onde nós acabamos, desfazendo. É, em todos os sentidos, uma dieta de baixo teor calórico. A negação deste espírito não tem nada de dialéctico. Parte-se do princípio que a vida é ilusão. Mas a ilusão é para nós uma bênção dos deuses. Só a rejeitamos quando não nos podemos iludir, nem, do mesmo passo, agir.

A acção é o que nos separa do outro "hemisfério".

0 comentários: