"A igualdade de que não se pode sair é um cárcere horrível. O despotismo da igualdade é o mais insuportável e o mais feroz dos despotismos, porque tem a sua origem na vontade dos impotentes, dos estúpidos, dos insignificantes."
(Camilo Castelo Branco)
Camilo é tudo menos um democrata. Na citação confronta duas grandes ideias da Revolução Francesa, a liberdade e a igualdade, como princípios inconciliáveis, numa antecipação do grande dilema vivido pelas experiências sociais revolucionárias do século XX.
Ele não diz que é toda a igualdade que é liberticida, mas apenas aquela "de que não se pode sair". Ora, a igualdade que tem um sentido para os homens livres e que não pode ser violada é a da dignidade humana. Daí não podemos "sair" sob pena de tornarmos a liberdade um crime.
É claro que um aristocrata tem de repudiar por princípio essa igualdade, e sabemos quanto Camilo prezava o seu novo título de visconde.
O que não se vê muitas vezes é que a diferença entre pobres e ricos é menos fatal para a dignidade humana do que o poder incontrolado, especialmente aquele que se exerce em nome da igualdade, de Deus, da Verdade ou do Povo. Porque todo o poder suspende a igualdade num certo sentido, mas o poder que só obedece à sua própria lei suspende-a em todos os sentidos, até o completo esmagamento da dignidade humana.
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