quinta-feira, 10 de junho de 2010

O CÁLCULO DA MISÉRIA OU A MISÉRIA DO CÁLCULO


Stokely Carmichael


"Para Carmichael (*), os problemas das pessoas negras eram tanto económicos como políticos. Argumentava que a pobreza era 'bem calculada' nos Estados Unidos e que os programas contra a pobreza não poderiam resultar porque os 'calculadores da pobreza' é que os administravam."

"Remembering and Forgetting – Black Power in 'Mississipi burning'" (Kristin Hoerl)


Com este raciocínio, Carmichael acabou, naturalmente, por declarar que era absurdo manter o apelo à não-violência, já que os "supremacistas brancos haviam mantido a sua posição de poder graças à supressão violenta".

O reconhecimento do padrão formal por detrás desta "pescadinha de rabo na boca" dos "calculadores que administram a luta contra a pobreza" levar-nos-ia facilmente a outras situações de impasse social e político, a reclamar a Revolução porque o sistema calcula a exploração e administra as pretensas reformas.

O esconjuro, através de fórmulas mágicas, duma realidade "injusta"corresponde aos poderes sobre-humanos (de cálculo e de dominação) que se atribuem aos capitalistas exploradores.

Na verdade, os últimos tempos, mesmo que não nos ensinassem outra coisa, parecem eloquentes quanto à completa falência duma "razão de classe".


(*) Stokely Carmichael era líder do SNCC (Student Nonviolent Coordinating Committee) e foi um dos advogados do "Black Power", nos anos sessenta.

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