sexta-feira, 23 de abril de 2010

A FARSA


"A Cidade"


"No Königstädter Theater levam-se à cena farsas e, como é natural, junta-se aí um público muito diverso; aliás alguém que queira fazer um estudo patológico do riso na sua diversidade em função da condição social e do temperamento não devia perder a oportunidade que a representação de uma farsa oferece. O júbilo e as sonoras gargalhadas da galeria e do segundo balcão são algo de completamente diferente do aplauso do público cultivado e crítico; são um acompanhamento permanente sem o qual a farsa simplesmente não poderia ser representada."

"A Repetição" (Soren Kierkegaard)


Num dos mais recentes espectáculos do Teatro da Cornucópia, "A Cidade", com um arranjo de textos de Aristófanes, que teve lugar no S. Luís, pude aperceber-me duma outra situação. Ao público habitual da Cornucópia juntou-se o público do S. Luís, talvez menos "cultivado e crítico". O resultado foi que a farsa em cena não pôde beneficiar do acompanhamento que Kierkegaard considera indispensável. Perdidas num meio que lhes era estranho, ouviram-se algumas "sonoras gargalhadas" que não chegaram para salvar o produto tão pouco cornucopiano como o que se via no palco, qualquer que tenha sido o mérito do trabalho de Luís Miguel Cintra e dos actores.

Tem razão o filósofo no que diz quanto à farsa. Um público circunspecto e à espera das subtilezas da interpretação não compreende este tipo de teatro que exige a participação do público.

Mas, embora alguns tivessem ficado chocados, talvez que aquele "tom" estivesse mais próximo do teatro grego do que pensavam.

2 comentários:

Anónimo disse...

Completamente de acordo.

Maria Helena

Porfirio Silva disse...

Teve piada ler este post. Senti-me um bocadinho "apanhado", porque me lembrava de uma certa (con)fusão de vistas quando fui ao S. Luís.

http://maquinaespeculativa.blogspot.com/2010/01/cidade-teatro.html