"Os mistérios da fé podem ter e tiveram o uso que a dialéctica marxista teve para Lenine (nos dois casos, trata-se de eliminar a contradição como critério lógico do erro), subjugar totalmente os espíritos pela hábil manipulação do anátema. Os eleitos, a quem repugnam tanto a revolta como o servilismo do espírito, fazem deles koans para a contemplação. Mas o seu segredo está noutro lado. É que há duas razões.(…)"
"La connaissance surnaturelle" (Simone Weil)
Não foi Simone que inventou a razão plural. Basta lembrarmo-nos de Kant e das suas duas razões. E como haveríamos, hoje, de chamar ao "coração" de Pascal, com as suas razões que a razão desconhece?
Para a nossa filósofa, a contradição não é, sempre, uma manifestação do erro, pode ser outra coisa, como um impasse. Ela admite, por isso, uma razão natural (a geométrica, "terrestre") e a sobrenatural (a da plataforma no Universo?), que pode pensar os contrários. Mas já os eleatas achavam que conceitos como o movimento e a mudança envolvem contradição…
Um célebre koan atribuído a Ekaku pergunta: "Batendo duas mãos uma na outra temos um som; qual é o som de uma mão?" Podemos conceber a medição do som duma das mãos que batem palmas, mas a ideia não é essa, é o som duma mão que não tem outra contra a qual bater.
Ou isto é absurdo ou só tem sentido fora da física que conhecemos.
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