sábado, 3 de abril de 2010

O FARDO DO REI


Laurence Olivier em "Henry V" (1945)


"E é assim, aparato à parte, que um miserável que passa os dias a trabalhar e as noites a dormir é superior a um rei! O escravo que pertence a um país pacífico goza da sua paz; o seu grosseiro cérebro, porém, não calcula quantas vigílias o rei teve de passar para conservar essa paz, cujas horas são particularmente proveitosas ao camponês!"

"Henrique V" (William Shakespeare)


O Plantageneta, antes da batalha de Agincourt e do seu vibrante discurso de exortação, em que todos os combatentes serão irmãos em nobreza, reflecte sobre o poder, enquanto fardo e maldição que honras nenhumas (o aparato) poderão iludir.

Se bem que a história esteja repleta de casos de monarcas infelizes por causa do seu cargo e que a antropologia já revelasse que se pode ser condenado à "cadeira" com a alternativa da morte, ninguém nos nossos dias consentirá no benefício da dúvida em relação ao poder, qualquer que ele seja, apenas por ser um privilégio.

Mas a democracia, ao mesmo tempo, fornece a prova que o comum abomina um privilégio que lhe tiraria o sono e a paz de espírito. O poder atrai os ambiciosos, lançando-os depois numa vida demasiado ocupada para terem tempo de se queixarem. E, na medida em que é necessário à ordem social, é bom que tantos se iludam sobre a natureza do poder, como o é, para a reprodução da espécie, que muitos mais se deixem seduzir pela aparência física.

0 comentários: