O Panóptico
Segundo Michel Foucault, o Panóptico, um dispositivo prisional circular, concebido por Jeremy Bentham (1748/1832), "tornava a vigilância permanente nos seus efeitos, mesmo se fosse descontínua na acção". "(…) O seu aparelho arquitectural deveria ser uma máquina para criar e manter a relação de poder independente da pessoa que o exercesse." George Orwell aplicou depois a ideia a toda a sociedade, com o Big Brother do seu "1984", que se tornou um dos modelos da sociedade totalitária.
Nos dois casos temos, não cidadãos, mas pacientes dum sistema penitenciário que, no segundo, dispensa os muros e o arame farpado.
Mas essa caricatura do controlo prisional ou político não parece útil nas sociedades democráticas, a não ser para conforto dos espíritos que assim imaginam o que seria a falta de liberdade total.
Um GPS que permite aos pais seguir os passos duma criança nada tem a ver com esse abuso do controlo, e é, na sua intencionalidade, uma extensão da vigilância que as famílias sempre exerceram sobra a sua prole. Mas é claro que essa monitorização pode ser levada a um ponto que inibe todo o sentimento de responsabilidade.
A ideia de Bentham era evitar a necessidade de punir, criando um espaço em que o prisioneiro se sentisse constantemente observado (mesmo se de facto não o estivesse). É assim que o crente se deve sentir perante um Deus zeloso que, a todo o tempo, "sonda os rins e os corações". Mas o sentimento de culpa que daí resulta nunca impediu a transgressão. O Panóptico, por outro lado, não podia induzir a culpa, só podia apoiar-se na ameaça duma punição.
O controlo nas nossas sociedades aperfeiçoou-se até o inimaginável e, se nem sempre é benevolente como o GPS familiar, criou em nós a ilusão de que a liberdade aumentou na mesma medida. Mas "Vigiar e punir" continua a ser a regra.
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