quinta-feira, 22 de abril de 2010

O PRÍNCIPE


René Descartes (1596/1650)

"Nenhum desenvolvimento é mais interior e original que o deste homem, que é, no entanto, que é justamente por isso, modelo para todos e bem comum. Só é útil o que é inimitável, porque aí encontramos o modelo do espontâneo e o exemplo da salvação possível. Justamente porque Descartes nunca abdicou. Este lábio grosso pensa."

"Pédagogie enfantine" (Alain)


Em Descartes, temos um dos exemplos mais notáveis duma vontade soberana. De alguém que fez um sulco no universo por se manter fiel a um princípio. Alguém que, de acordo com o seu século, procurou tirar de todas as peripécias duma vida aventurosa um ganho de conhecimento sobre si mesmo e o mundo à sua volta.

Mas parece que o rumo da sua vida não foi ditado pela maturidade, como aconselhava Simone Weil, nem sequer pela razão, mas pela ideia dum grande destino, como o prova a importância que o filósofo dá às suas visões e conversões. Para além disso, Descartes passou por ser um católico devoto, mesmo se, para o gosto de Pascal, reservasse a Deus um lugar decorativo.

O que diz Alain é que este homem não se salvou em espírito, contra uma parte de si mesmo. Uma saúde pouco firme não o impediu de seguir a carreira militar, e o que teria sido uma desvantagem para o comum, serviu para esculpir o seu carácter. E nessa empresa de se salvar todo, com todas as suas virtudes e todos os seus defeitos, é verdade que já não encontramos vestígio da negação do corpo que é a ideia platónica e cristã. É ainda a lição do bom uso das paixões.

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