"Paira sobre os primeiros cristãos uma atmosfera inquietante, já suspeita para os seus contemporâneos, na qual nem sempre se distinguem nitidamente o valor de confissão da lascívia de morte. Para Suetónio, trata-se, entre os cristãos, de psicopatas que atentam contra a vida – o que parece justificar a sua titulação chocante de 'inimigos do género humano'; por isso conta a sua execução entre as 'boas' acções do césar Nero."
"O Estranhamento do Mundo" (Peter Sloterdijk)
A incompreensão de Suetónio em relação ao que hoje chamaríamos de fanatismo ou de fundamentalismo (no fundo a radicalidade duma opção de vida) dos primeiros cristãos só tem paralelo no escândalo que é para os nossos espíritos, apesar de tudo, tão de bem com o mundo, quer isso se deva aos progressos da razão e da ciência, quer aos benefícios duma paz que bem sabemos ser precária, o exemplo daqueles que estranham o mundo dum modo tão radical, a ponto de trocarem a vida por uma promessa de futuro em que só muito poucos acreditam.
Não é a pulsão de morte freudiana que pode explicar o sacrifício do bombista suicida no Iraque ou noutro lugar de guerra, antes é caso para falar num excesso do simbólico sobre o real. Tal como os mártires do cristianismo, esses oferecem a sua vida em troca da "verdadeira vida".
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