"Se lhe propus instalar uma caixa de sugestões dizendo respeito já não à produção, mas ao bem-estar dos operários, é que esta ideia me surgiu na fábrica. Um procedimento como esse evitaria todo o risco de humilhação – dir-me-á que sempre recebeu bem os operários, mas sabe o senhor mesmo se não tem também momentos de humor ou ironias deslocadas? -, constituiria um convite formal da parte da direcção, e depois, só de ver a caixa nas oficinas, ter-se-ia menos a impressão de não contar para nada."
Simone Weil (carta de 3/3/1936 a Victor Bernard)
No outro dia, pedir o regulamento das visitas num hospital de província foi o suficiente para alarmar as enfermeiras que sentiram, precipitadamente, que eu julgava um dos seus momentos de descontracção, entre elas, como tempo roubado aos doentes. A alguns metros, um aviso informava que havia ali livro de sugestões e reclamações.
Faz, de facto, toda a diferença, essa simples homenagem a um direito, mesmo que não sirva para mais nada, quer por as pessoas não acreditarem que valha a pena tentar transpor a sagrada muralha de médicos e enfermeiros, quer por terem receio de despertarem uma qualquer má vontade de que os doentes seriam as principais vítimas.
É inimaginável, por exemplo, que existisse, em casa dum patrício romano, uma caixa de sugestões ou de reclamações, e por aí se vê o alcance da revolução cristã ao incluir o escravo entre os filhos de Deus. Mas também quase não conseguimos conceber que um símbolo do direito como esse possa ainda ser considerado, hoje, em alguns locais de trabalho como "revolucionário".
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