segunda-feira, 5 de abril de 2010

NO REINO DA DINAMARCA


Laurence Olivier em "Hamlet"

"Hamlet mostra-se indeciso, e os desastrosos eventos que se seguem são, em grande medida, uma consequência dessa indecisão. Na interpretação clássica da peça, Hamlet é um sonhador, não é um homem de acção, sente-se mais à vontade no mundo do teatro do que no meio conspirativo da corte do seu tio; tal não se deve porém a uma falta de coragem, ou de inteligência – porque o príncipe é corajoso e é inteligente -, mas a um excesso de consciência de si."

"Os grandes livros" (Anthony O'Hear)


É claro que o "self-conscient" não sabe dançar nem saltar a vala. É como se desligasse a "inteligência" do corpo, os hábitos e os instintos, para confiar apenas na sua lucidez, compreendendo tudo, os seus próprios motivos e a situação do mundo. Era assim que Simone Weil queria que o operário estivesse no seu posto, como Prometeu no seu rochedo do Cáucaso, não deixando apagar-se, nem por um momento, a luz interior.

Mas se Hamlet hesita é porque quanto mais pensa menos razões tem para agir. Castigar o usurpador? Mas tem ele outra prova senão um sonho e a palidez do espectador da trama que ele quis que fosse o espelho do assassino?

No teatro, sim. As réplicas comandam as consequências. O irmão matou o rei para se apoderar do trono porque só assim o drama tem sentido.

De resto, não se pode ter excesso de consciência, ou a justa, menos do que isso, ou nenhuma.

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