sábado, 27 de fevereiro de 2010

UM SISTEMA SENSÍVEL


http://www.coded.be/files/u1


"Se bem que o termo de democracia esteja em todos os lábios, faz-nos falta ainda uma concepção suficientemente precisa deste tipo de codificação da política. Como para todas as codificações, trata-se aí de distinguir entre um valor positivo 'governo' e um valor negativo 'oposição'. Se bem que um valor se reflicta no outro e uma contínua relação de inversão se estabeleça entre os dois, a estrutura permanece, apesar disso, assimétrica – o que quer dizer que é ao mesmo tempo simétrica e assimétrica. (…) Em tudo o que o governo empreende, a oposição está efectivamente co-presente, do mesmo modo que a oposição constantemente se orienta em função do governo – de facto, sobre que outra base poderia ela orientar-se?"

"Politique et Complexité" (Niklas Luhmann)


Esta definição aplica-se com mais propriedade ao bipartidarismo, porque onde há partidos na oposição "absoluta" (sem esperança de virem a governar), é de crer que se orientarão menos pelos actos do governo do que por uma semântica própria, no limiar da política.

Luhmann diz que esta cisão do sistema político no seu topo constitui "um resultado evolucional altamente improvável", correspondendo a um código diferente do que prevaleceu nas teorias do Estado na segunda metade do século dezoito. E é este adquirido estrutural que, em termos de adaptação, explica a superioridade da democracia.

A alternância entre os partidos no poder, a inversão entre o governo e a oposição, de facto, fragiliza o sistema em termos de poder. Mas é essa, paradoxalmente, a vantagem deste regime, que lhe permite dotar-se duma "nova sensibilidade" em relação a um meio ambiente mais complexo. O sistema político, com isso, em vez de se colocar acima da sociedade, torna-se um dos seus numerosos sub-sistemas. Um sistema autónomo que "tem de se codificar e programar em função da contingência."


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