"As coisas que fazem um bom Juiz, ou um bom intérprete das Leis são, em primeiro lugar, uma compreensão correcta dessa principal Lei da Natureza chamada Equidade; a qual, não dependendo da leitura do que outros homens escreveram, mas da bondade da Razão natural do próprio homem e da Meditação, se presume exista naqueles que têm mais tempo e mais inclinação para meditar (…)."
"Leviathan" (Thomas Hobbes)
A antiga distinção entre a vida política e a vida filosófica, com o seu ideal contemplativo, parece inspirar esta ideia da Meditação, privilégio duns tantos que, graças à transferência das suas necessidades de sobrevivência para a maioria ou para uma classe sem direitos cívicos, dispõe do lazer do filósofo.
Apesar do esquema grego, que permitiu, no entanto, o disparo do pensamento ocidental, ser demasiado cru para nos agradar, não tem sido outro, desde então, o segredo do nosso desenvolvimento. É claro que o privilégio só numa pequeníssima percentagem é tão socialmente produtivo, sendo na esmagadora maioria dos casos pura ociosidade, senão parasitismo. Há uma divisão do trabalho que permite a alguns "perderem" tempo a resolver as charadas da Física, numa qualquer repartição, ou a escrever, deitados, longos romances no seu casulo de cortiça.
O problema do bom juiz, para voltar a Hobbes, é que os juízes, hoje em dia, se parecem, cada vez mais, com qualquer outra classe profissional, nem lhes faltando o sindicalismo. E a verdade é que, quando todos nos tornamos mais consumidores e menos cidadãos, o tempo não sobra para a meditação.
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