O Grande Canal (John Haskins)
"(Ruskin, referindo-se à catedral de S. Marcos) Então vêm os ornamentos interpolados da frente e dos lados; depois as folhagens decorativas dos arcos superiores, extravagâncias da incipiente Renascença: e, finalmente, as figuras que carregam as goteiras do lado norte – inteiramente o bárbaro trabalho dos séculos dezassete e dezoito – ligam o conjunto com o emplastro dos restauros de 1844 e 1845. A maior parte dos palácios de Veneza dificilmente suportaram interpolações menos numerosas; e as do Palácio Ducal são tão intrincadas que um ano de trabalho seria provavelmente de todo insuficiente para as desemaranhar e definir."
"The stones of Venice" (John Ruskin)
O olhar do turista contenta-se com muito pouco. Importa-lhe mais que a história das pedras pareça bem contada do que seja verdadeira. É assim que o melómano intuitivo escuta um trecho atribuído a um grande nome. Conhecer a técnica musical e as "interpolações" a que as várias interpretações submeteram a obra é sem dúvida um prazer, mas de outra ordem e que não lhe parece essencial para o juízo do gosto.
Veneza corre o risco, cada vez mais, de se tornar um museu. Guido Piovene ("Viaggio in Italia") diz sobre o Grande Canal: "(…) o tráfico é terrestre, o maior fluxo pedonal segue o curso do Grande Canal pelo interior, formando uma espécie de anel. O Canal fica de fora, quase segregado, transformando-se numa fila de belos bastidores erguidos sobre coisa nenhuma."
A cidade, contra a sua lenda, tornou-se sobretudo terrestre (stradale). Ilusão suprema a acrescentar às outras dos que passam a correr.
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