sábado, 13 de fevereiro de 2010

UM HOMEM DA IGREJA



"Como eu visse que a Assembleia aquecia e se amotinava contra o presidente de Mesme, saí, já não sei com que pretexto, e disse a Quatresous, conselheiro das Inquirições e o mais impetuoso espírito que havia na agremiação, para alimentar a escaramuça, porque eu tinha experimentado já várias vezes que o meio mais adequado de fazer passar um assunto extraordinário nas assembleias era o de excitar a juventude contra os velhos."

"Mémoires" (Cardinal de Retz)


Há homens que vivem na política como o peixe na água. Mas deixar-se flutuar ou arrastar pela corrente não era o génio de Retz. Sentimos, naquilo que escreveu, a paixão de agir e quanto o retiro final, nas palavras de La Rochefoucauld, "foi a mais falsa acção da sua vida."

Italiano, como Maquiavel, mas querendo-se francês de gema, Paul de Gondi tem o gosto do espectáculo e da improvisação fulgurante.

É talvez justa a ideia que o Co-Adjutor e os seus comparsas durante a Fronda estivessem a fazer uma espécie de peça teatral com um argumento que ele gostaria de ter escrito.

A primeira impressão destas Memórias, porém, é a de que Retz encarava a política com uma objectividade que é raro encontrar mesmo nos nossos tempos. Ele sabia que o homem integrado num corpo colectivo não se comporta como o indivíduo que era ainda há pouco, mas como um outro ser.

0 comentários: