Ainda da liberdade. Se a "liberdade interior" é, mais propriamente, o livre-arbítrio, e a liberdade não se compreende inteiramente fora da vida política, isto é, entre os homens e não no diálogo do indivíduo consigo próprio, conforme a análise de Hannah Arendt, é preciso reconhecer, com ela, o sentido dessa expressão no âmbito da revolução cristã.
Ao separar o crente do mundo político e da escravatura real, o cristianismo operou uma espécie de libertação (que o marxismo considerava um ópio, na mesma medida) que era a de Epicteto, escravo, e ao mesmo tempo filósofo e senhor de si próprio.
A relação política, com os homens, foi transferida para Deus ou a Filosofia. O que isto quer dizer é que, pela primeira vez na história, a consciência tinha o poder de recusar o mundo. Isso teve infinitas consequências para o espírito crítico ( que também começa por recusar a aparência), consequências que ainda hoje se fazem sentir, em todos os domínios, nomeadamente contra o espírito religioso. A religião tinha em si, portanto, o seu próprio antídoto.
Mas a confusão da situação moral (a superioridade da consciência) com a realidade ( a "escravatura" real) condena a política, sem apelo nem agravo.
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