segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NAS NUVENS


"Nas nuvens" (2009-Jason Reitman)

Ryan Bingham (George Clooney) era a pessoa ideal para poupar aos Recursos Humanos das empresas o drama de dizer a alguém que está despedido. É que os anos de trabalho parecem sempre mais do que a simples contrapartida do salário, e as vítimas falam sempre em sacrifício e dedicação, dando quase nenhuma importância às razões "objectivas" de quem os despede.

Mas Bingham, que era um desenraizado (gostava de dizer que morava nas nuvens, com os aviões), identificava-se de tal modo com esse nomadismo aéreo que era com alguma superioridade, derivada da experiência, que anunciava a "boa nova" duma vida sem bagagem supérflua nem residência fixa, aos que constavam da "lista negra".

Tinha até o hábito de discursar, nas sessões de formação, com uma mochila ao lado para mostrar que todos nós carregamos demasiadas coisas ou nos deixamos prender por demasiados laços humanos, como se estivesse a pensar no exemplo de Gandhi que, no dia em que se partiu o espelho diante do qual fazia a barba, se considerou um pouco mais livre.

Em suma, o cinquentão que já não tem tempo para recomeçar, ou o chefe de família que deixa de poder pagar as prestações da casa e os estudos dos filhos devem considerar o desastre que lhes caiu em cima como uma nova oportunidade (talvez possam enfim começar a fazer aquilo que sempre gostariam de ter feito).

Estamos em tempos de grande mudança quando as virtudes do individualismo e do "roaming" das lendas do Oeste nos surgem sob o tom da crítica.

A evangelização de Bingham chega ao fim quando a sua própria empresa decide dar o "salto tecnológico", das entrevistas pessoais para o despedimento através da "Webcam", e o pregador sem bagagem se transforma em mais um burocrata.

1 comentários:

Anónimo disse...

Bingham foi apanhado na armadilha desse desenraizamento quando verifica que a eleita não tinha sido completamente clara nas regras do jogo, e por momentos, reage de modo idêntico às vítimas de despedimento a quem ele prodigalizava oportunidades.
A carta de recomendação(não me recordo do nome da personagem) tem um tom redentor evidente, creio.

Maria Helena