"A clockwork orange" (Stanley Kubrick)
"Os anúncios parecem funcionar segundo o princípio muito avançado de que um grãozinho ou um pequeno motivo sonoro acabará gradualmente por emergir duma ruidosa barragem de repetições e por se impor. Os anúncios levam o princípio do ruído ao nível extremo da persuasão. Eles estão exactamente de acordo com as técnicas de lavagem ao cérebro, possivelmente porque repousam o seu princípio fundamental no assalto contra o inconsciente."
"Pour comprendre les média" (Marshall McLuhan)
A expressão "ataque ao inconsciente" diz muito da época e do moralismo profético deste grande mediólogo dos anos sessenta.
Entretanto, o nosso inconsciente, seja ele o que for, revelou-se muito mais complexo e resiliente do que as teorias primitivas, evocadas por McLuhan, supunham. Claro que os destinatários da sua crítica eram reais, porque nunca faltaram "aprendizes de feiticeiro" para qualquer "ataque" que promova as vendas. O objectivo racional, no limite, seria o de harmonizar a produção e o consumo, assim como "a totalidade dos desejos e dos esforços", o que levaria, segundo McLuhan, a que a publicidade se eliminasse a si mesma, por efeito do próprio sucesso.
Tudo leva a crer que esse cenário nunca será possível, não só porque o campo dos desejos é ilimitado, mas porque o comerciante, tal como o observador na teoria de Heisenberg, modifica o seu "objecto".
A "lavagem ao cérebro" não dá conta do que se passa com a publicidade. O cérebro não precisa de ser virado do avesso (como na máquina de lavar) para ser "impregnado" pelo seu meio. E a verdade é que a publicidade é, nas cidades, mais paisagem do que a natureza.
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