"Diário de um pároco de aldeia" (1951-Robert Bresson)
Várias vezes se diz no "Diário de um pároco de aldeia" que ele é uma criança.
Por isso, as pessoas não o odeiam, apenas se defendem da sua pureza. Defendem-se do que as confronta com o significado das palavras e as suas próprias vidas.
Este retrato de Bresson-Bernanos é o dum verdadeiro padre num tempo de agonia (ele remonta a sua vocação até ao Horto das Oliveiras), consumido pela dúvida e pelas intermitências da fé. Incapaz até, muitas vezes, de se sentir à altura da oração e desconhecendo a astúcia de homens mais experimentados, como o seu mestre Torcy, que se socorre, nesses momentos, do hábito e da repetição (rabâchage).
Os seus paroquianos preferem considerá-lo um bêbedo e um homem sem maneiras a sofreram a revelação de si próprios. O seu testemunho (mas o que faz ele?) é o verdadeiro escândalo.
Até, aos olhos deles, é culpado da morte da condessa, depois desse cume do cinema que é o confronto entre o orgulho, que se sente sempre credor, e o amor que não pede nada e tudo tem. O "milagre das mãos vazias".
Diz-se que a verdade fala pela boca das crianças. Não, certamente, na acepção filosófica dum acordo entre as palavras e os factos. Mas do que se apresenta sem arte, nem dissimulação e pela generosidade nos desarma.
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