terça-feira, 13 de julho de 2010

SIMONE NOS INFERNOS


Dante no Inferno (Gustave Doré)


"A obediência, tal como a pratiquei, define-se por estas características. Antes de tudo, ela reduz o tempo à dimensão de alguns segundos. Aquilo que define em todo o ser humano a relação entre o corpo e o espírito, a saber, que o corpo vive no instante presente, e que o espírito domina, percorre e orienta o tempo, foi isso que definiu nessa época a relação entre mim e os meus chefes. Eu tinha que limitar constantemente a minha atenção ao gesto que estava em vias de fazer. Não tinha que o coordenar com outros mas somente repeti-lo até ao minuto em que uma ordem viesse impor-me um outro."

"La Condition Ouvrière" (Simone Weil)


Está aqui inteira a caracterização do trabalho "escravo", como alienação e separação absoluta do corpo e do espírito. Mas o taylorismo ainda triunfante na época exigia de mais a quem se lhe submetia sem saúde e sem uma verdadeira necessidade. Esta é por isso a versão, não podemos deixar de o notar, do intelectual que "desceu aos Infernos". De alguém que se define por uma utópica liberdade do pensamento.

Mas a verdade é que o pensar se apoia na servidão do corpo e, grande parte do tempo, é um monarca que se ausenta para parte incerta, para não falar do sono em que de todo desaparece.

O trabalho, não como a tortura que o seu étimo parece significar, mas como obediência à necessidade não devia ser diferente daquelas tarefas que o corpo nos impõe para nos mantermos vivos.


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