segunda-feira, 12 de julho de 2010

LENINE


Vladimir Ilitch Lenin (1870/1924)


"Afinal de contas, era bastante surpreendente o facto de a revolução ter estalado não só num país não industrializado, atrasado, mas num território onde não existia um movimento socialista forte, gozando do apoio das massas. E, em segundo lugar, era igualmente inegável que a revolução fora consequência da derrota russa na guerra russo-japonesa. Dois factos que Lenine nunca esqueceu, e de que extraiu duas conclusões. Primeira: não era necessária uma grande organização; um pequeno grupo bem organizado, com um líder que soubesse o que queria, bastava para tomar o poder, uma vez varrida a autoridade do antigo regime. As grandes organizações revolucionárias acabavam por ser um estorvo. Segunda: uma vez que as revoluções não eram 'feitas', antes resultavam de circunstâncias e acontecimentos que ninguém podia controlar, as guerras eram bem-vindas."


"Homens em Tempos Sombrios" (capítulo dedicado a Rosa Luxemburgo, Hannah Arendt)


Uma nota interessante é que, segundo Werner Hahlberg ("Lenine und Clasewitz"), Lenine, que teria lido Clausewitz, sob a influência deste, "começou a considerar a hipótese de que a guerra, a derrocada do sistema capitalista europeu de estados-nações, pudesse substituir a derrocada económica capitalista tal como Marx previra."

É quase incrível esta audácia de Lenine que, afinal, se baseava na convicção de que as "leis" do materialismo-histórico se acabariam por cumprir, duma maneira ou doutra, sendo a obrigação do partido revolucionário servir apenas de "parteira". Mesmo que, como era o caso, não tivesse havido nenhuma gestação e nada houvesse para dar à luz.

Tudo isso foi possível porque a crítica do sistema capitalista tinha deixado de o ser, ao colocar-se numa posição de superioridade moral que a dispensava de aplicar a si própria o método fundamental de que se servia para denunciar a exploração e a injustiça no seu "Outro".

Mas Lenine tinha a desculpa de ser o primeiro aprendiz de feiticeiro em nome da "ciência" e não ser capaz de imaginar que as calamidades sociais desencadeadas por forças e acontecimentos incontroláveis podem ser muito piores do que as provocadas pela guerra.

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