Voltaire (1694/1778)
"Dividi o género humano em vinte partes: dezanove são compostas por aqueles que trabalham com as suas mãos e que nunca saberão se alguma vez existiu um Locke no mundo; na vigésima parte que sobra, como são poucos os homens que lêem! E entre aqueles que lêem, há vinte que lêem romances, um que estuda filosofia. O número dos que pensam é excessivamente pequeno, e esses não se lembram de perturbar o mundo. Não foram Montaigne, nem Locke, nem Bayle, nem Spinoza, nem Hobbes, nem Milord Shaftesbury, nem o Sr. Collins, nem o Sr. Toland, etc., que levaram o facho da discórdia à sua pátria; foram, na maior parte dos casos, teólogos que, tendo primeiro a ambição de ser chefes de seita, depressa tiveram a de ser chefes de partido."
"Lettres Philosophiques" (Voltaire)
Por que é que um homem com o talento de Marcelo e dispondo do mais estratégico dos púlpitos não poderia, mesmo se quisesse, trazer "o facho da discórdia à sua pátria", tal como os teólogos de que fala Voltaire?
Porque há muitos outros púlpitos e não se prende um "Gato Fedorento" por causa duma rábula certeira. Além disso, sendo a televisão um medium "frio" (McLuhan) não chega, realmente, a entusiasmar-nos.
Nenhuma ditadura compreende a televisão. As autoridades do "Apartheid" que demoraram tanto tempo a introduzir a televisão no seu país, receavam, certamente, que a televisão desfizesse nas cabeças o guetto que as leis impunham à sociedade. Mas alguma vez as comédias de "telefone branco" suscitaram o menor ímpeto igualitário?
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