sábado, 3 de julho de 2010

BOGART HIJACKED


Boggy

Dez minutos de publicidade são uma metralha cega, a ver se acerta num desejo. Todos os anúncios querem o meu bem, a minha saúde, a minha economia.

Como qualquer pessoa, distingo a falaz benevolência e não me deixo levar. O discurso autista nem por isso se interrompe. A não ser por um espécime da arte de massas que subliminarmente me implanta os terminais da publicidade. Parece uma máquina enlouquecida a pregar no deserto. Mas não. A fortuna que desaparece nessa voragem supostamente vende. A própria cultura entra nessa alquimia para ataque ao cérebro. Desde a poesia ao cinema. Quanto mais criativa, mais perde a verdadeira civilização pela confusão dos géneros.

Bogart, sobretudo morto, faz vender relógios, através dum acto de pirataria necrófila.

Algumas “mentiras” (nestas aspas está a questão) da propaganda aproximam-se perigosamente da liberdade poética. E as palavras, as mais belas palavras, já não têm reserva que as acolha. Tudo se troca por outra coisa e pode significar o contrário do que sempre disse.

Em economia, chama-se a isto desvalorização.

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