quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A POLÍTICA PAGA




“Não é verdade que o dom por si mesmo reclame um contra-dom: os homens aceitam sem o menor constrangimento que se lhes prestem os serviços que se deseja prestar-lhes; deixam-se alimentar, proteger e governar gratuitamente e estimam, com razão, que aqueles que os governam por prazer já são suficientemente pagos por esse prazer.”

“Le pain et le cirque” (Paul Veyne)


O funcionário, por outro lado, “não tem que agradecer à cidade, porque esta precisava dele e a cidade não tem que honrá-lo, porque só se honra o que é gratuito.”

Os governantes devem ser remunerados para os cargos serem acessíveis a todos e não se tornarem propriedade duma casta de “notáveis”, embora isso contribua para a profissionalização da política e para a mesma perda de “aura” que sofreram profissões liberais como a de médico, de sacerdote ou de professor. “Político ou filósofo, aquele que se faz pagar pelos seus conselhos, diz o “Górgias”, será sempre suspeito de procurar agradar aos que lhe pagam e de não lhes dar os melhores conselhos.

Mas quando o filtro do dinheiro (pelos custos das campanhas) ou dos partidos torna letra morta o acesso de todos, temos, na realidade, o pior de dois mundos: uma política desprestigiada e uma nova classe proprietária da coisa pública.

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