“Não é verdade que o dom por si mesmo reclame um
contra-dom: os homens aceitam sem o menor constrangimento que se lhes prestem
os serviços que se deseja prestar-lhes; deixam-se alimentar, proteger e
governar gratuitamente e estimam, com razão, que aqueles que os governam por
prazer já são suficientemente pagos por esse prazer.”
“Le pain et le cirque” (Paul
Veyne)
O funcionário,
por outro lado, “não tem que agradecer à
cidade, porque esta precisava dele e a cidade não tem que honrá-lo, porque só
se honra o que é gratuito.”
Os governantes
devem ser remunerados para os cargos serem acessíveis a todos e não se tornarem
propriedade duma casta de “notáveis”, embora isso contribua para a
profissionalização da política e para a mesma perda de “aura” que sofreram
profissões liberais como a de médico, de sacerdote ou de professor. “Político ou filósofo, aquele que se faz
pagar pelos seus conselhos, diz o “Górgias”, será sempre suspeito de procurar
agradar aos que lhe pagam e de não lhes dar os melhores conselhos.”
Mas quando o
filtro do dinheiro (pelos custos das campanhas) ou dos partidos torna letra
morta o acesso de todos, temos, na realidade, o pior de dois mundos: uma
política desprestigiada e uma nova classe proprietária da coisa pública.
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