segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CÓPIA CONFORME





Surpreendente este “Copie conforme” de Kiarostami! A meio da história damos por nós a sorrir com a mudança do jogo entre o inglês James Miller (William Shimell), que acaba de apresentar um livro com o título do filme, e “ela” (Juliette Binoche), uma francesa com uma loja de antiguidades em Arezzo. Eles deixam o flirt turístico para simularem um reencontro de antigos amantes que nunca existiu, no próprio local (Lucignano) da sua “lua-de-mel”, como se, para ilustrar a tese de Miller, copiassem a realidade e no fim  não se soubesse qual era mais valiosa, se a vida ou a imitação dela.

Ela está realmente enamorada ou representa apenas um amor que sobreviveu à separação? A docilidade com que o seu parceiro segue esse jogo até ao ridículo só se pode explicar pelo seu desejo de acreditar na ficção e, talvez, por uma espécie de coerência intelectual por aquele ser o tema do seu ensaio.

Não sabemos, no último plano, se Miller vai tentar apanhar o comboio das nove, como disse, ou refazer o original da sua vida.

Mas ao contrário do miúdo diante da cópia, na Piazza della Signoria, a quem a mãe não achou necessário dizer que o original do David estava na Accademia, Miller sabe-o. Poderá continuar a fazer de conta, ou isso de facto não importa? A vida a dois começaria por um jogo de adultos, como se a felicidade não fosse interrompida por começar no teatro.

2 comentários:

Francener disse...

Muito interessante esta resenha. Acho que o filme pode ser visto sob vários prismas, mas a sua abordagem me pareceu muito próxima ao que assisti na telona, e sua leitura dos personagens, não trai, ou melhor, faz uma "copia conforme"...

Marcia Francener

isa disse...

Assisti somente hoje este filme e vim ler sobre ele. Tinha visto um trailer (a parte da italiana que pergunta sobre a relação do casal) e fiquei interessada. Tua resenha é ótima. Vou ler novamente o que escreveste, mas no meu íntimo ficou a sensação que Shimell não estava a altura da Binoche e não consegui senti-los como cópia ou original...
Enfim, viva a diversidade de opiniões!