Surpreendente este “Copie
conforme” de Kiarostami! A meio da história damos por nós a sorrir com a
mudança do jogo entre o inglês James Miller (William Shimell), que acaba de
apresentar um livro com o título do filme, e “ela” (Juliette Binoche), uma
francesa com uma loja de antiguidades em Arezzo. Eles deixam o flirt turístico para simularem um
reencontro de antigos amantes que nunca existiu, no próprio local (Lucignano)
da sua “lua-de-mel”, como se, para ilustrar a tese de Miller, copiassem a
realidade e no fim não se soubesse qual
era mais valiosa, se a vida ou a imitação dela.
Ela está realmente
enamorada ou representa apenas um amor que sobreviveu à separação? A docilidade
com que o seu parceiro segue esse jogo até ao ridículo só se pode explicar pelo
seu desejo de acreditar na ficção e, talvez, por uma espécie de coerência
intelectual por aquele ser o tema do seu ensaio.
Não sabemos, no
último plano, se Miller vai tentar apanhar o comboio das nove, como disse, ou refazer
o original da sua vida.
Mas ao contrário do
miúdo diante da cópia, na Piazza della
Signoria, a quem a mãe não achou necessário dizer que o original do David
estava na Accademia, Miller sabe-o.
Poderá continuar a fazer de conta, ou isso de facto não importa? A vida a dois
começaria por um jogo de adultos, como se a felicidade não fosse interrompida
por começar no teatro.
2 comentários:
Muito interessante esta resenha. Acho que o filme pode ser visto sob vários prismas, mas a sua abordagem me pareceu muito próxima ao que assisti na telona, e sua leitura dos personagens, não trai, ou melhor, faz uma "copia conforme"...
Marcia Francener
Assisti somente hoje este filme e vim ler sobre ele. Tinha visto um trailer (a parte da italiana que pergunta sobre a relação do casal) e fiquei interessada. Tua resenha é ótima. Vou ler novamente o que escreveste, mas no meu íntimo ficou a sensação que Shimell não estava a altura da Binoche e não consegui senti-los como cópia ou original...
Enfim, viva a diversidade de opiniões!
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