“Compreende-se por que é que o abastecimento de
Roma não foi deixado ao cuidado de evergetas como os edis: uma tarefa tão vasta
e ruinosa requeria o Estado. Compreende-se igualmente por que o Estado
distribuía gratuitamente ou a baixo preço o trigo à população de Roma: porque
esta aglomeração, demasiado grande para a empresa privada da época, não podia
ser abastecida pelas leis do mercado; o Estado, esse, podia permitir-se vender
com prejuízo.”
“Le pain et le cirque” (Paul
Veyne)
O domínio do
Estado por uma classe ou uma casta tem, pois, um limite. É preciso que um
mínimo de ordem seja possível. A plebe romana não podia ser tratada como a
população dos Lager nazis, nem
objecto de uma solução final.
Uma das razões
para a expansão imperial bem pode ter sido a necessidade de alimentar a capital
do senado e dos Césares, essa bizarra aglomeração humana, sem condições para se
sustentar a si própria.
A economia
pode explicar como é que “antes da
revolução industrial o custo dos transportes era demasiado elevado” e por
que é que “a empresa privada não estava à
altura do problema”. Mas o papel assistencial do Estado, obrigando à
contenção do egoísmo de classe, e a eficácia de ideias como a da glória de Roma
que justificavam a ociosidade de multidões requerem outro tipo de análise.
0 comentários:
Enviar um comentário