quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O ESTÔMAGO DO IMPÉRIO



“Compreende-se por que é que o abastecimento de Roma não foi deixado ao cuidado de evergetas como os edis: uma tarefa tão vasta e ruinosa requeria o Estado. Compreende-se igualmente por que o Estado distribuía gratuitamente ou a baixo preço o trigo à população de Roma: porque esta aglomeração, demasiado grande para a empresa privada da época, não podia ser abastecida pelas leis do mercado; o Estado, esse, podia permitir-se vender com prejuízo.”

“Le pain et le cirque” (Paul Veyne)



O domínio do Estado por uma classe ou uma casta tem, pois, um limite. É preciso que um mínimo de ordem seja possível. A plebe romana não podia ser tratada como a população dos Lager nazis, nem objecto de uma solução final.

Uma das razões para a expansão imperial bem pode ter sido a necessidade de alimentar a capital do senado e dos Césares, essa bizarra aglomeração humana, sem condições para se sustentar a si própria.

A economia pode explicar como é que “antes da revolução industrial o custo dos transportes era demasiado elevado” e por que é que “a empresa privada não estava à altura do problema”. Mas o papel assistencial do Estado, obrigando à contenção do egoísmo de classe, e a eficácia de ideias como a da glória de Roma que justificavam a ociosidade de multidões requerem outro tipo de análise.

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