Pompeia (http://www.theintellectualdevotional.com) |
"Ou ainda, as pessoas vingam-se do imperador
troçando dele, o quer que tenha dito acima (sobre a ausência de expressão
política), há de facto um graffito político e anti-neroniano em Pompeia, mas é um graffito
obsceno. Porque, primo, é normal que uma oposição impotente tome certa
forma, secundo, a oposição política dificilmente podia
argumentar, criticar uma política que servia mal o povo, uma vez que se esperava
dos governantes que governassem, não para servir o povo, mas porque tinham
pessoalmente o direito de governar; é por isso que a polémica política teve
sempre em Roma o carácter de invectivas mais ou menos ignóbeis e sem relação
com a realidade.”
“Le pain et le cirque” (Paul
Veyne)
Apesar de “ter o direito” de governar sem atender à
opinião da plebe, opinião que seria vista não só como impertinente, mas como
totalmente falha de competência, para César não havia melhor sinal de sucesso
político e de boa governação do que ser amado por essa mesma plebe. O mecenato
dos imperadores (que saía da sua fortuna pessoal, durante a República e nos
primeiros tempos do império) tinha mais essa ambição do que servir de “válvula
de segurança” ao regime.
A plebe era
constituída por homens livres (os escravos, como se sabe, eram considerados
como bem materiais, e mais duma epígrafe
funerária releva o facto do defunto ter devolvido o escravo fugitivo ao
seu “legítimo proprietário”), mas não havia o que hoje chamamos de opinião
pública. A política sendo o exclusivo duma casta, devia parecer-se muito com os
caprichos da natureza que só revoltava os insensatos. A estes, por não terem
ideia nenhuma que se pudesse chamar eficaz, restava-lhes a blasfémia
latrinária. Opor à impotência cívica as fantasias de Príapo.
Um outro tipo
de impotência é a que levantam sistemas complexos
como o mercado ou a geo-estratégia. Só na medida em que ainda temos ilusões é
que escapamos ao protesto “obsceno”. Mas a abstenção e o desinteresse ressuscitam
as condições do império. “Sociologicamente,
a ausência de opiniões arrasta consigo a soberania por direito subjectivo, o
qual acarreta ideologicamente o evergetismo do soberano.” (ibidem)
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