“Permito-me acrescentar que aqueles que não
tiveram esta experiência acharão estranho o presente parágrafo; porque a
intuição do divino bem pode ser antropológica, uma vez que é irredutível a uma
experiência próxima, ela não deixa de ser irregularmente distribuída entre os
indivíduos: para uma metade da humanidade, ela é evidente; a outra metade
ignora-a e nega-a com irritação; no máximo pensará que se trata duma vaga
sentimentalidade, cultivada com uma complacência suspeita: quando pode
tratar-se duma tempestade afectiva à qual o indivíduo desorganizado procura em
vão escapar.”
Paul Veyne (“Le pain et le cirque”)
Essa emoção de
um momento que provoca em nós a visão duma aura de “majestade, terror e
suavidade” que “pode envolver certos
objectos reais ou imaginários” seria a essência do religioso.
Como diz
Veyne, quem não sentiu isso alguma vez, por exemplo, diante de uma noite
estrelada, não pode fazer ideia do que se trata.
O pensamento
dum Carl Sagan é já uma tentativa de racionalizar esse sentimento, “o sentimento da insignificância do homem
perante uma força (eu nem disse uma pessoa) esmagadora e adorável, permite
reconhecer nas religiões históricas um núcleo essencial.”
Tal como o sol
que não se pode olhar directamente sem cegar, a nossa razão reduz essa força a
uma dimensão humana que só a sua beleza terrível é capaz de trair.
E o que é o
indivíduo “organizado”, que está
acima destas coisas? Um habitante típico da caverna platónica.
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