terça-feira, 12 de janeiro de 2010

OBJECTIVIDADE



"Muitos repórteres pensam que não é ético envolverem-se, porque pensam que isso compromete a objectividade jornalística. Por isso mantêm-se voluntariamente na ignorância de movimentos quer da direita, quer da esquerda. Ouve-se constantemente falar na famosa 'tendência liberal da imprensa'. Muitos repórteres são liberais: zombam da intolerância, são pela igualdade dos sexos e fazem reciclagem. Mas não são politicamente activos, e suspeitam das pessoas que o são."

"Francis, jornalista, citado em "Avoiding politics" de Nina Eliasoph)


O problema da acção está aqui bem formulado. Porque agir é interromper a "objectividade" e decidir-se por uma das opções, entrando, naturalmente, numa dinâmica de afectos potenciadora da própria acção.

Nesse sentido, a ética jornalística está de facto em causa. Por muito que pretenda ser objectivo, o jornalista "engagé" reflectirá, a maior parte das vezes inconscientemente, os ídolos da sua tribo e uma perspectiva particular.

Mas, por outro lado (e o exemplo americano é elucidativo), a objectividade não pode procurar uma equidistância, moralmente neutra, sem que o jornalismo perca o seu sentido cívico. Então, neste, como em outros casos, o que decide é a facilidade. Obrigados a pensar ( e a decidir) sobre as questões éticas e, por isso, devendo recusar a espécie de pensamento que é a opinião colectiva e a ideologia das organizações (a sua semântica, diria Luhmann), ficam-se pela apresentação de factos, muitas vezes irrelevantes, mas que lhes permite absterem-se de adoptar opiniões "enviesadas", mesmo quando se sentem atraídos por elas.

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