"Existe uma camada de fundo no ciclo de evaporação política; os cidadãos vaga e ambivalentemente dão-se conta ou fazem a experiência das questões políticas, mas não a traduzem toda em palavras: esta é uma experiência infinita e nua que pode, de facto, nunca ser reconhecível, falável, cultural. Esta camada do fundo é feita das conexões inevitáveis não reconhecidas que temos uns com os outros: dependência de outros desconhecidos em relação à água e aos alimentos, ao abrigo e à roupa, à linguagem e ao sentido."
"Avoiding politics" (Nina Eliasoph)
Muitos factores contribuem para que a experiência profunda da política nunca chegue à palavra. A verdade é que só podemos falar das questões sobre as quais podemos ser ouvidos, o que implica um formalismo mínimo, uma etiqueta social, como diz Eliasoph.
A cultura americana, segundo a socióloga, criou as condições para que apenas um certo envolvimento dos cidadãos seja possível (e este parece ser consensual), o de particulares lutando pelos seus interesses mais básicos. A política não encontra espaço fora do aparelho do poder.
Entre nós, podia-se dizer que não temos dificuldade em verbalizar – o que é o princípio da política -, mas esse impulso é imediatamente transviado nos caminhos da irrelevância e da descrença.
Não chegamos a ser cínicos, porque amamos o trocadilho em demasia e a boa consciência do espectador.
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